Plantar a Lua: é seguro derramar sangue menstrual na terra?
Ritual de reconexão e autoconhecimento para muitas mulheres, o hábito já foi alvo de
dúvidas sobre se poderia causar algum dano à saúde. Entenda mais para tirar os mitos
da cabeça e ter liberdade para escolher por conta própria!

Que mulher não se sente diferente durante a menstruação? É sempre um período
especial, que pode trazer algum desconforto físico para algumas, mas também uma
oportunidade incrível de ligação mais profunda consigo mesma e com a sua
espiritualidade.

Muitas mulheres já perceberam que esse estado é propício para pequenos rituais de
autocuidado e autopercepção. Para muitas, a intuição fica mais aguçada durante a
menstruação e é mais fácil se conectar com a Terra, com o cosmos, enfim, com a
forma de espiritualidade escolhida e vivida por cada uma de nós.

Nessa linha, o movimento que busca naturalizar a menstruação, vencer tabus e trazer
mais conforto e bem-estar às mulheres nesses dias do ciclo têm falado bastante sobre
plantar a lua”. Você sabe o que é isso?

Trata-se de um pequeno ritual de derramar (ou seria devolver?) parte do sangue
menstrual em um vaso de planta da casa ou mesmo direto na terra, em uma hortinha
ou quintal, como uma forma de se religar à terra e ao divino.
Na maioria das vezes, são mulheres que já aderiram a uma solução mais sustentável
para a menstruação, como os absorventes reutilizáveis, as calcinhas absorventes e o
coletor menstrual (três soluções Ecoabs disponíveis).

Elas aproveitam a água usada para deixar de molho a calcinha ou o absorvente de
pano, antes da lavagem. E, depois, “regam” a terra com essa água misturada ao
sangue. Cada uma, é claro, faz isso do seu jeito: com uma pequena oração, um mantra,
um tempo maior para contemplar a natureza, um ato de gratidão ou de perdão, e por
aí vai.

Com o crescimento dessa prática, há quem levante dúvidas sobre se seria seguro
misturar sangue menstrual à terra e, especialmente, a uma horta. Ouvimos uma
naturóloga sobre o assunto e também um técnico agrícola da Unisol-SP. Confira o que
eles dizem e depois escolha, você mesma, o seu próprio caminho!

Uma visão a partir da Ayurveda (medicina tradicional indiana)
Segundo Sabrina Latansio, Professora de Ayurveda no Curso de Graduação em
Naturologia da Universidade Anhembi Morumbi, na visão da Ayurveda (“ciência da
vida”, em sânscrito), a menstruação é o momento em que a mulher tem a
oportunidade de eliminar, pelo sangue, uma grande quantidade de toxinas que
acumulou ao longo de um mês, aproximadamente.

São toxinas geradas, principalmente, pela alimentação mais “pesada”, além do
consumo de álcool, uso de medicamentos, pílula anticoncepcional etc. “Nesse sentido,
é como se este sangue estivesse “sujo”, digamos assim, e por essa razão, tendo a não
achar muito interessante despejar parte dele numa horta, por exemplo”, diz.
Por outro lado, usar uma parte do sangue menstrual em um vaso de planta não
comestível, por exemplo, como um pequeno ritual individual, não traz nenhum tipo de
problema.

Um olhar com base na agricultura mais natural
Para Juliano Takeshi Fujita, técnico agrícola da Unisol-SP e Amater, não há problema
algum em jogar a água com sangue na terra. “Se for uma terra rica em húmus [adubo
produzido por minhocas durante a compostagem de matéria orgânica], melhor ainda,
pois a biorremediação a partir de bactérias e micro-organismos é o que há de mais
atual para tratar grandes volumes de resíduos, dos mais diversos tipos”, conta.
Fujita, que trabalha com certificação orgânica participativa e economia solidária,
explica que o sangue rico em nutrientes será biodegradado [ou seja, destruído por
organismos vivos presentes na terra] e disponibilizado para as plantas. “Mesmo os
resíduos de medicamentos e até solos contaminados de postos de gasolina são
biorremediados assim”, explica o técnico agrícola.

Cada uma na sua, combinado assim?

No fim, há sempre motivos para fazer ou deixar de fazer algo. O fato é que este
pequeno ritual de derramar parte do seu sangue em uma terra perto de você não faz
mal a ninguém.
Agora, se você, por alguma razão, toma muitos medicamentos ou está com a saúde um
pouco debilitada, talvez não seja o caso de fazer isso em um canteiro de temperos que
você usa na cozinha ou numa pequena hortinha caseira, por exemplo.
Mas, se você quiser manter o rito sem tretas na cabeça, pode usar um vaso de planta
não comestível ou uma área de terra maior (uma praça ou algo assim).
Siga a sua intuição também. Faz parte desse momento perceber o que é o melhor a
fazer, certo?